sábado, 10 de novembro de 2012


ARTHUR RIMBAUD



Iluminuras - III

Nos bosques tem um pássaro, você pára e cora com seu coro.
Tem um relógio que não toca nunca.
Tem uma brecha no gelo com um ninho de bichos brancos.
Tem uma catedral que sobe e um lago que desce.
Tem uma pequena carruagem abandonada na moita, ou que passa correndo,
decorada.
Tem uma trupe em trajes de comédia, espiada pela trilha da floresta.

E então, quando você tem fome e sede, tem sempre alguém que te manda
passear.

Rimbaud


“ POSSUO UM AMOR ARBITRÁRIO
PELAS COISAS ANTIGAS”.

( Jacqueline Torres )


( Carros na Ponte da Boa Vista - Recife )

VISÕES

(Imagem da Internet)

 No céu deste fim de tarde
há um cavalo negro
de longas crinas
Os olhos vazados para um azul
ainda claro e que aos poucos morre
Também aos poucos
esse corcel sombrio se enfurece
corcoveia e cavalga as sombras
‒ se desfaz...
Desprendo-me de meus estudos
de minhas insuficientes alegrias
para perseguir-lhe a lenta corrida
o seu esmorecer
            dentro da tarde que expira
Seu arfante respiro tão distante
Engolindo-se no concreto
dos prédios e nas copas
            negras das árvores
Longe, longe
            meu cavalo negro agoniza,
delirante, transmudando-se
em um estranho peixe tentálico
Sob o olhar ardente de Vênus
por trás da cortina
            marinho desta janela...
Lá, bem distante, ‒ não parece
Tudo se dissolve, tudo é cinza
A noite entrou com seus passos
            curtos de pano
Vênus sorri, monalísica e monossilábica
            no céu frásico
O cavalo já não existe
já não existe o peixe ou seus tentáculos...
Apenas existe meu olhar triste
            por trás da branca grade
assombrando-se emudecido
com as formas que as sombras
            prendem sobre a cidade
e aqui por dentro de mim.

( Jacqueline Torres )